Na calçada, um boêmio passa mal.
No cassino, uma roda rodopia,
E um repórter aparece no jornal.
Ali, no tipo, trabalha o bravo chumbo,
E de manhã, a manchete tipo jumbo
Aparece nas mãos do jornaleiro,
Que grita arrogante, muito afoito:
Novo preço do leite e do biscoito
Pela falta de ação do timoneiro.
Uma dona de casa se levanta,
Abre a porta que dá para o quintal,
E observa na copa de uma planta
O gorgeio inocente de um pardal.
E ela, coitada, submissa,
Cruza as mãos, abre a boca, se espreguiça,
Banha o rosto e apanha algum dinheiro
E desce celeri em busca do mercado.
Ali, no tipo, trabalha o bravo chumbo,
E de manhã, a manchete tipo jumbo
Aparece nas mãos do jornaleiro,
Que grita arrogante, muito afoito:
Novo preço do leite e do biscoito
Pela falta de ação do timoneiro.
Uma dona de casa se levanta,
Abre a porta que dá para o quintal,
E observa na copa de uma planta
O gorgeio inocente de um pardal.
E ela, coitada, submissa,
Cruza as mãos, abre a boca, se espreguiça,
Banha o rosto e apanha algum dinheiro
E desce celeri em busca do mercado.
Não tem carne o açougue, está fechado,
Pela falta de ação do timoneiro.
Pela falta de ação do timoneiro.
Faz o fraco café, bota na mesa,
Chama os filhos que vão para a escola,
O seu rosto se cobre de tristeza,
Vem a filha mais velha lhe consola.
Na cidade começa o rebuliço,
Pouca gente a caminho do serviço,
E muita gente enfrentando o paradeiro
E as válvulas da máquina do poder.
Vão fechando o direito de viver
Pela falta de ação do timoneiro.
Eu quiserá, através do meu ofício,
Ajudar minha gente tão sofrida,
Porém noto que no altar do vício
A toalha está bem mais encardida.
O comboio precisa de conserto,
E o mecânico só sabe dar aperto,
Mas não sabe trocar um só gracheiro
Dos muitos que têm na engrenagem.
Desse jeito, paramos a viagem
Pela falta de ação do timoneiro.
Nossa terra possui soberania,
O nosso solo é rico, e é fecundo,
Nossa gente é cheia de energia
E não precisa de nada do outro mundo.
Quem quiser vir pra aqui nos ajudar,
Pode vir, tem direito a trabalhar,
Mas respeite o suor do brasileiro
E não chegue virado no demônio.
Assaltando o nosso patrimônio
Pela falta de ação do timoneiro.
Pode vir, tem direito a trabalhar,
Mas respeite o suor do brasileiro
E não chegue virado no demônio.
Assaltando o nosso patrimônio
Pela falta de ação do timoneiro.
Ó Brasil, pátria minha, quanta dor
Ver que os filhos perdendo a identidade,
E tu nas mãos de quem não tem amor,
Te vendendo a nossa liberdade.
Ver alguém lá de fora legislando
E os nossos silvérios aprovando
Duas leis que são feitas no estrangeiro,
E nos mares de água tempestiva,
Nossos sonhos singrarem à deriva
Pela falta de ação do timoneiro.
Quantas mãos esqueléticas estendidas
Atendemos na rua onde moramos,
Enquanto nas largas avenidas
Desfila o suor que derramamos.
Passarelas cobertas de orgia
E favelados carentes de alegria,
Espalhados pelo Brasil inteiro,
E nos salões requintados de além-mar,
Uma gente de nós a gargalhar
Pela falta de ação do timoneiro.
Até quando uma gente como a nossa
Vai viver dependendo do trajeto?
Rogo a Deus que amanhã meu povo possa
Libertar-se, viver independente,
Norte, sul, leste e oeste, de mãos dadas,
Produzindo de tudo, toneladas
Para gáudio do homem brasileiro
E desespero do monstro lá de fora
Que nos rouba, nos chuta e nos explora
Pela falta de ação do timoneiro.