De três ou quatro minutos de vosso tempo preciso,
Para eu contar em versos a história de João do Riso.
Na fábrica onde eu trabalhava, também trabalhava João,
Conhecido por João do Riso, pela sua vocação
De fazer o povo rir, por ser muito falcasão
Enquanto a gente chorava a vida de operário,
O alto custo de vida, João fazia o contrário.
Até que achava graça no aumento do salário.
João do Riso era contente, mesmo quando estava liso,
Na hora em que a sirene da fábrica dava o aviso.
A gente se reunia ao lado de João do Riso,
E João do Riso dizia: "Aqui ninguém se destaca,
Todo mundo ganha pouco, vamos fazer uma vaca
Para se tomar a primeira ali naquela barraca."
E a gente se reunia, três ou quatro camaradas,
Falava-se de futebol, pescarias, vaquejadas,
E João do Riso contava, seu rosário de piadas.
Lá na fábrica, João do Riso era motivo de graça,
No entanto, nesta vida, tudo que é bom logo passa.
Não é que aconteceu a João terrível desgraça?
Não é que João acertou na loteria esportiva,
E aquela alma liberta, bem humorada e ativa,
Está hoje tão melancólica, qual canto do patativa.
O pobre de João do Riso, no dinheiro se consome.
Veste bem, calça melhor, bebe bem e muito come.
Mas se agora João do Riso, de riso só tem o nome.
E a mulher de João do Riso, que foi tão bem humorada,
Hoje está tão diferente, tenho pena da coitada usa
Um sapato alto, a cara toda pintada.
Mas um brinco em cada orelha, no pescoço pendurada,
Uma corrente de ouro, de ouro tão carregada.
Que a gente, olhando de longe, parece serra pelada.
Ela que foi tão bonita, tão modesta, tão singela,
Hoje está tão diferente, nem parece mais aquela,
A cara suja de tinta, vermelha, verde e amarela.
E aquela carga de ouro que botaram em cima dela.
E a casa de João do Riso feita num lugar seguro,
A gente olha de longe, da casa só vê o muro.
No muro cinco cachorros, raça pastor alemão,
No portão um vigilante com uma arma na mão.
O carteiro lá não entra, deixa carta no portão,
E o pobre João do Riso agora perdeu a vez
De beber cachaça boa na venda do português.
Só vai festa requintada na casa de outro burguês,
E se obriga a beber somente uísque escocês.
Rico, pobre João do Riso, que rindo a vida viveu,
Fechou a boca pro riso, o riso que Deus lhe deu.
É da fortuna cativo, João do Riso está vivo,
E o riso de João, há
O Riso de João,
MORREU!