💸 R$ 100,00 pode ser seu! Bilhetes a partir de R$ 5,00! Contato Comprar!
Chat em Tempo Real

Bem-vindo ao chat

Publicidade

Conversa de Passageiro - Zé Laurentino

Certa feita viajei com destino ao interior
E no ônibus me sentei bem pertinho de um doutor.
O homem conversava, as coisas me perguntava,
Pois apesar do estudo e sua sabedoria,
Quase tudo ele sabia, mais não sabia de tudo.

Por exemplo, me perguntou, com um gesto de ironia:Quem foi que me ensinou a escrever poesia?
Eu lhe respondi:
-- Patrão, não tenho certeza não,
Mas pra esses versos meus que têm um sabor silvestre,
Eu só tive um grande mestre a quem conheço por Deus.

Cortava o carro o asfalto, e a gente dialogando,
Toda viagem é um salto quando se vai conversando.
Contemplávamos a paisagem que margeava a rodagem,
Um quadro bem nordestino:
Cavalos e bois que comiam, casebres que pareciam brincadeiras de menino.

Casebres rústicos de palha semeados pela serra,
Feitos sem vigas, sem calhas, os pisos feitos de terra.
Portas que nunca trincavam, guris raquíticos brincavam
Pelo terreiro da frente.
Vendo esse quadro o doutor falou assim:
Trovador, nessas casas moram gente?

Mora um povo semi-morto, eu lhe respondi no momento,
De quem o nome “conforto” não tomou conhecimento.
Em cada casinha destas, por mais pequena e modesta,
Tem 10 pessoas ou mais. Ali os filhos se somam,
Pois as mães não tomam anticoncepcionais.

E elas não tomam, não por não quererem tomar,
Lhes falta orientação e dinheiro pra comprar.
Mas necessitam de amor, que é um dom do criador,
Fazer amor, quem não quis?
E assim a todos instantes vão produzindo imigrantes que irão ao sul do país.

As poltronas nesses ranchos são alguns cepos de paus,
Os guarda-roupas são ganchos, as camas quase giraus.
E a alimentação é um prato de feijão, um taco de rapadura,
Batata doce também, cuscuz de milho, xerém, macaxeira e fava pura.
Meninos famintos, fracos, dado à limitada boia.

Os seus lençóis são de sacos, o leito é uma tipoia.
Os seus brinquedos são ossos, caramujos e outros troços
Que eles acham pelo chão, na maior variedade.
Pois brinquedos de verdade eles não possuem, não.

E os pais desses meninos? - me perguntou o doutor - são vadios peregrinos?
Eu lhe respondi:
Não senhor, são eles homens modestos, porém honrados e honestos
Que trabalham todo dia.
Trabalham tanto, aliás, que talvez trabalhem mais do que vossa senhoria.
Só uma coisa é diferente, eles têm uns embaraços:

Trabalha o senhor com a mente e eles trabalham com os braços.
O senhor num gabinete que parece um palacete com todo luxo e requinte,
Pobrezinhos que eles são, não ganham nem um milhão,
Ganha o senhor mais de vinte.
Vive esse homem da terra, que não é dele, é alheia.

Nessa luta quase guerra que é trabalhar de meia,
Com a sua mão calejada, puxa o cabo da inchada
Que as suas forças consome,
Para extrair do chão essa alimentação que o homem da praça come.

Ainda tinha uma coisa pra dizer ao doutor, porém chegamos em Sousa, cidade do interior.
Eu precisava ficar, e ele tinha que passar, pois ia pra o Juazeiro.
Tão logo me despedi, peguei a pena e escrevi:
Conversa de Passageiro

Postar um comentário

Publicidade
Publicidade
Publicidade
Publicidade
Publicidade
Cookies
Usamos cookies neste site para analisar o tráfego, lembrar suas preferências e otimizar sua experiência.
Detalhes
Oops!
Parece que há algo errado com sua conexão com a Internet. Conecte-se à Internet e comece a navegar novamente.
AdBlock Detectado!
Detectamos que você está usando um plugin de bloqueio de anúncios em seu navegador.
A receita que ganhamos com os anúncios é usada para gerenciar este site, solicitamos que você coloque nosso site na lista de permissões em seu plugin de bloqueio de anúncios.
Site is Blocked
Desculpe! Este site não está disponível em seu país.